Filósofo, matemático, astrônomo, poeta e teólogo – seu currículo é maior que uma nota fiscal de compra do mês. O frade italiano nascido em 1548 entrou para a história após questionar abertamente crenças fundamentais da Igreja Católica, como a existência de céu e inferno, a danação eterna e a concepção de Cristo por uma mulher virgem.
Bruno também era uma espécie de herdeiro intelectual do heliocentrismo de Nicolau Copérnico, e não se limitou a concordar que a Terra é que dava voltas em torno do Sol – o que na época, por si só, era o suficiente para morrer na fogueira dos tribunais eclesiásticos. Observando o céu, foi além e concluiu que as estrelas não eram só pontos de luz, mas outros “sóis” muito distantes. Cada um teria seu próprio conjunto de planetas girando em torno de si, e qualquer um desses corpos poderia abrigar vida – doutrina visionária que ganharia o nome de “pluralismo cósmico”.
Na obra A Causa, o Princípio e o Uno, ele diz: “o universo é, então, uno e infinito (…) Não é possível compreendê-lo e ele não tem limites. Nesse sentido, ele é indeterminável, e consequentemente imóvel.” Em Sobre o Infinito do Universo e os Mundos, Bruno também afirma que outros planetas “não têm menos virtude nem uma natureza diferente da de nossa Terra”, e, como ela, “contêm animais e habitantes.” Por trás de sua visão de infinito estava o panteísmo: a crença de que Deus não é uma figura metafísica separada do universo palpável, mas que ambos estão em completa identificação e são, no fundo, a mesma coisa.
O filósofo, apesar da perseguição, chegou a lecionar Aristóteles na Universidade de Halle-Wittenberg, uma instituição de ensino alemã luterana – os protestantes, fiéis a seus princípios de livre interpretação da Bíblia, toleraram sua subversão teórica por mais tempo que católicos tradicionais.
Ele foi queimado em 1600, e se tornou um mártir dos iluministas no século 19. Até hoje é símbolo da liberdade de pensamento e expressão, e suas ideias estão na vanguarda da astronomia contemporânea: o telescópio Kepler, lançado pela Nasa em 2009, já identificou mais de 2,3 mil dos mundos distantes que habitavam os sonhos de Giordano Bruno. No ano passado, o Observatório Europeu do Sul (SEO) anunciou a descoberta de Proxima B, exoplaneta com temperaturas médias de 30º e água líquida – e um forte candidato a abrigar vida como a conhecemos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário