segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Os filósofos helenísticos


O termo “helenístico” é usado para se referir à civilização que utilizava o grego como língua oficial a partir das conquistas de Alexandre, o Grande, em 336 a.C., até o domínio romano sobre a Grécia antiga, em 146 a.C, ou até o domínio romano sobre o Egito, em 30 a.C.

Com a expansão de Felipe II e Alexandre, o Grande, as cidades gregas perderam grande parte da autonomia e passaram a ser parte de um império. Depois da morte de Alexandre, sem herdeiros, o império entrou em decadência e se dividiu em três reinos. Os reinos helenísticos (macedônicos, selêucidas e ptolomaico) concentravam o poder no soberano absoluto, com uma corte vasta e uma poderosa burocracia – algo que, aliás, inexistia na Grécia clássica. As assembleias democráticas desapareceram, e a terra e a manufatura (cerveja, têxteis, papiro ou óleo) tornaram-se monopólio estatal. Uma série de golpes e contragolpes se sucedeu, e esses Estados logo se fragmentaram e foram paulatinamente anexados, nos séculos II e I a.C., pelos romanos.

No mundo helenístico há, no entanto, um fenômeno mais impressionante do que qualquer batalha de Alexandre: gregos, egípcios, persas, hebreus, mesopotâmicos e hindus, culturas tão ricas e distintas, passaram a ter contato. Surgia uma cultura nova, nem grega, nem oriental, mas híbrida, sincrética, sendo, por isso, chamada de cultura helenística. A língua grega tornou-se a “língua comum” em toda a região conquistada por Alexandre. O modelo das cidades gregas era exportado para o Oriente: nos territórios conquistados, Alexandre construiu cerca de 70 cidades, sendo Alexandria, no Egito, a maior cidade da época, eixo econômico e intelectual do Mediterrâneo Oriental.

A filosofia helenística surge nesse contexto histórico. Ela é fortemente marcada por uma preocupação central com a ética, aqui entendida como o estabelecimento de regras do bem viver, da “arte de viver”. É ilustrativo disso o famoso Manual, do romano Epicteto (50-125). Em outras palavras, com o fim da pólis grega e o advento das hegemonias (macedônica, romana ou bizantina), o homem deixou de ser analisado em sua condição de “animal político”, que deveria viver pela sua cidadania. Alijado da política ou desiludido com ela, passou a preocupar-se mais com sua felicidade pessoal. Num mundo pluralista e multicultural, ou seja, cosmopolita, o homem sentia-se desenraizado, e a pólis deixou de ser sua referência básica. A ataraxia (“paz de espírito” ou “tranquilidade”), e não a política, leva os homens à eudaimonia (“felicidade”). (Para conferir um papo sobre Sócrates - CLIQUE AQUI)

Em vez de valorizar o autor (com exceções notáveis, tal qual Plotino, Zenão de Cítio, Epicuro ou Cícero), o pensamento no mundo helenístico é usualmente associado a uma escola ou tradição. A originalidade, assim, tem menos valor que a vinculação a um grupo. Muitas escolas helenísticas, por isso, foram acusadas de dogmáticas e doutrinárias, por deixar de lado o aspecto polêmico e dialético da filosofia grega. Além do mais, elas são profundamente ecléticas, por sintetizar diferentes doutrinas. As principais escolas helenísticas são a Estoica e a Epicurista.

Os Estóicos

A Escola Estoica foi fundada em Atenas, em 300 a.C., por Zenão de Cítio (344-262 a.C.), e desenvolvida por Cleantes (330-232 a.C.) e Crisipo (280-206 a.C.). Em Roma, os principais representantes do estoicismo foram Sêneca (4 a.C.-65d.C.), Epicteto (60-138) e o imperador Marco Aurélio (121-180).

O termo “estoicismo” deriva de stoa poikilé (“pórtico pintado”), local em Atenas onde os membros da escola se reuniam. O estoicismo é a primeira ética universal fundada numa igualdade de princípios de todos os homens: cada um deve se pensar como “cidadão do mundo”, isto é, um cosmopolita.

A noção de necessidade, ou destino (heimarmené), é muito forte no estoicismo: o homem deve resignar-se e aceitar os acontecimentos predeterminados. Isso não se traduz pela inação ou pelo fatalismo passivo. Devemos agir de acordo com os preceitos éticos e fazer o que julgarmos devido, mas devemos também aceitar as consequências de nossa ação e o curso inevitável dos acontecimentos. Segundo um exemplo famoso, se vejo alguém se afogando, devo salvá-lo, mas, se não o conseguir, não devo desesperar-me, pois era inevitável. É legítimo, portanto, um amor ao destino (amor fati).

Assim, os estoicos acreditam que, para manter nossa ataraxia, devemos nos preocupar apenas com o que podemos modificar (nossos pensamentos, ações, sentimentos).  O que não está ao nosso alcance, ou seja, o que não conseguimos modificar (morte, velhice, catástrofes naturais, a opinião dos outros) não deve ser alvo de nossas preocupações. O sábio, em vez de buscar mudar a ordem do mundo, deve saber mudar seus desejos. A liberdade é compreendida como adesão à necessidade do ser que sabe reconhecer na lei universal o que é mais apropriado à sua natureza primeira. Como disse Sêneca: “Deve-se aprender a viver por toda a vida e, por mais que tu talvez te espantes, a vida toda é um aprender a morrer”.

Os Epicuristas

Epicuro (341-271 a.C.), notabilizado por seu tratado Da Natureza, fundou sua escola em Atenas, em 306 a.C., reunindo-se com seus discípulos no Jardim (Kepos), que ficou conhecido na Antiguidade. O Jardim tornou-se uma comunidade filosófica que põe em prática a ideia de frugalidade, serenidade e amizade, a rejeição das superstições religiosas e as vaidades sociais. Os sábios constroem um pequeno mundo amistoso em que reinam livremente a sabedoria e a amizade, no qual são recebidos abertamente mulheres, crianças, escravos e estrangeiros.

Para Epicuro, o que nos afasta do soberano bem são os quatro grandes medos humanos: medo dos deuses, medo da morte, medo do sofrimento e medo da dor. Os quatro medos não têm razão de ser, pois são alimentados por crenças vãs. De fato, não são as coisas que nos atormentam, mas, sim, as elaborações e os pensamentos que temos delas. A morte, por exemplo, não deve ser temida, pois, se pensarmos, veremos que não há por que ansiar a imortalidade. Além disso, a morte “não é nada em relação ao homem: ou ela existe e ele não existe ou ele existe e ela não existe”. A morte de um amigo não nos deve fazer infelizes, pois não é um mal para ele.

Para os epicuristas, o homem age eticamente na medida em que dá vazão a seus desejos e necessidades naturais de forma equilibrada ou moderada, e é isso que garante a ataraxia, porque “aprender e gozar andam juntos”. A valorização do prazer (hedoné) como algo natural e a concepção de que a realização de nossos desejos naturais e espontâneos é positiva deram origem à imagem, certamente distorcida, de que o epicurista é alguém devotado a uma vida cirenaica de prazeres. Ao contrário, o prazer excessivo joga-nos novamente na dor, que por sua vez nos leva à ação viciosa. Existem três tipos de prazeres: os naturais e necessários, que devemos buscar, pois a não satisfação causaria em nós uma dor real; os nem naturais nem necessários, cuja não satisfação não causaria uma dor verdadeira, e, portanto, artifícios da vaidade devem ser evitados; e os naturais, mas não necessários (como um bom vinho ou o amor), que devem ser evitados.

fonte: abril educação

domingo, 10 de setembro de 2017

Albert Camus - 7 livros para download


De origem argelina, Albert Camus (1913 – 1960) é com certeza um dos melhores escritores em língua francesa do pós-guerra. Em suas obras explora o absurdo da condição humana e desenvolve a revolta como a única resposta diante disso.
As presenças constantes da morte e do paradoxo na vida de Albert Camus (1913 – 1960) marcam profundamente sua obra, tanto a filosófica quanto a literária. Três elementos fundamentais de sua terra natal (Argélia) marcariam definitivamente sua obra: a guerra, a fome e a pobreza. Seus escritos procuram narrar os absurdos de sua era, os choques e desordens que assolaram seu tempo. Tais conflitos já haviam sido abordados por escritores que o precederam, tal como Franz Kafka, Dostoiévski. Esta proximidade entre Camus e estes dois autores evidencia um movimento mais ou menos heterogêneo conhecido como “estética do absurdo”. (Para saber mais sobre o Existencialismo - CLIQUE AQUI )



Para aqueles que queiram conhecer melhor a obra de Albert Camus segue, abaixo, a lista de livros disponíveis em PDF, e mais abaixo, em vermelho, o link para o download das obras:



A Morte Feliz | A Peste | A queda | Núpcias, O Verão | O estrangeiro | O homem revoltado | O Mito de Sísifo

PARA FAZER O DOWNLOAD DOS LIVROS - CLIQUE AQUI

fonte: farofa filosófica

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

A filosofia de Habermas

Em sua Dialética do Esclarecimento, os filósofos Adorno e Horkheimer, fundadores da chamada Escola de Frankfurt, criticaram a razão oriunda do Iluminismo, a qual, na época utilizada como meio de libertação, converteu-se em instrumento de dominação, uma vez que o mundo passou a ser administrado em nome da técnica: é o que chamavam razão instrumental, dirigida a fins.
Para esses filósofos, a razão instrumental teria, inclusive, atingido as obras de arte. A produção artística, longe de preservar sua “aura” e sua autonomia, passou a ser produzida e condicionada de acordo com uma lógica de mercado. A Indústria Cultural, nome usado por Adorno e Horkheimer, portanto, tornou as produções artísticas mercadorias como quaisquer outras. (PARA SABER MAIS - CLIQUE AQUI )
Para Habermas, Adorno e Horkheimer, confundiram um tipo particular de racionalização com a própria razão. A razão, assim, não pode ser reduzida à sua perversidade utilitária, uma vez que ela possui uma função comunicativa. Na estrutura da linguagem cotidiana, assim, já está embutida uma exigência de racionalidade. A linguagem é uma verdadeira forma de ação: o simples fato de falar implica, além de uma exigência de compreensão mútua, um ideal de exatidão e veracidade e uma sinceridade. A interação com a linguagem, assim, sustenta que os indivíduos partilhem um mundo objetivo, um mundo social e um mundo subjetivo – essa é a base de sua teoria da ação comunicativa.
Assim, Habermas reconcilia-se com a razão ocidental e propõe um verdadeiro salto paradigmático, buscando um conceito de racionalidade que seja ancorado nos processos de comunicação. Se existe uma racionalidade instrumental mediada pela economia e pelo poder, existe todo um agir comunicativo, que busca o entendimento e o assentimento entre sujeitos, tendo em vista uma ação comum, baseado na forma sem violência do discurso argumentativo. No diálogo – quando ninguém é “trapaceiro, nem um psicótico, nem um bêbado” –, cada ser se investe numa troca em que só contam os valores de razão, como reconhecimento, respeito e sinceridade.
Habermas visa a fundar uma “ética da discussão”: em vez de um sujeito buscar fazer valer uma lei universal, é preciso buscar uma discussão na qual as questões morais sejam objeto de debates, dando lugar a acordos. Uma norma ética, para ele, só é válida quando for objeto de uma livre discussão. Só o agir comunicativo, que tende ao entendimento entre os atores, pode ser a base ética de uma sociedade. Habermas foi acusado, por muitos, de “reformista”, pois, em vez de desesperar-se diante da democracia burguesa, levou a sério suas potencialidades.
Em suma, como diz Habermas, a ação comunicativa ocorre “sempre que as ações dos agentes envolvidos são coordenadas, não através de cálculos egocêntricos de sucesso, mas através de atos de alcançar o entendimento. Na ação comunicativa, os participantes não estão orientados primeiramente para o sucesso individual, eles buscam seus objetivos individuais respeitando a condição de que podem harmonizar seus planos de ação sobre as bases de uma definição comum de situação. Assim, a negociação da definição de situação é um elemento essencial do complemento interpretativo requerido pela ação comunicativa”.
fonte: abril educação

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

“Toda dor pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história”, Hannah Arendt


Hannah Arendt (nascida Johanna Arendt; Linden, Alemanha, 14 de outubro de 1906 – Nova Iorque, Estados Unidos, 4 de dezembro de 1975) foi uma filósofa política alemã de origem judaica, uma das mais influentes do século XX.
A privação de direitos e perseguição de pessoas de origem judaica ocorrida na Alemanha a partir de 1933, assim como o seu breve encarceramento nesse mesmo ano, fizeram-na decidir emigrar. O regime nazista retirou-lhe a nacionalidade em 1937, o que a tornou apátrida até conseguir a nacionalidade norte-americana em 1951. Trabalhou, entre outras atividades, como jornalista e professora universitária e publicou obras importantes sobre filosofia política. Contudo, recusava ser classificada como "filósofa" e também se distanciava do termo "filosofia política"; preferia que suas publicações fossem classificadas dentro da "teoria política".
Arendt defendia um conceito de "pluralismo" no âmbito político. Graças ao pluralismo, o potencial de uma liberdade e igualdade política seria gerado entre as pessoas. Importante é a perspectiva da inclusão do Outro. Em acordos políticos, convênios e leis, devem trabalhar em níveis práticos pessoas adequadas e dispostas. Como frutos desses pensamentos, Arendt se situava de forma crítica ante a democracia representativa e preferia um sistema de conselhos ou formas de democracia direta. Entretanto, ela continua sendo estudada como filósofa, em grande parte devido a suas discussões críticas de filósofos como Sócrates, Platão, Aristóteles, Immanuel Kant, Martin Heidegger e Karl Jaspers, além de representantes importantes da filosofia moderna como Maquiavel (PARA SABER MAIS - CLIQUE AQUI) e Montesquieu. Justamente graças ao seu pensamento independente, a teoria do totalitarismo (Theorie der totalen Herrschaft), seus trabalhos sobre filosofia existencial e sua reivindicação da discussão política livre, Arendt tem um papel central nos debates contemporâneos.
Autora inspirada pelos acontecimentos que a rodeavam e pela sua própria experiência, Hannah acompanhou o julgamento de um nazista duas décadas depois de ela mesma ter escapado de um campo de concentração. O homem no banco dos reús, em Jerusalém, era Adolph Eichmann, responsável por ajudar a transportar milhares de judeus para a morte durante o Holocausto. Hannah queria entender por que Eichmann fez coisas tão terríveis. Seus ensaios para a revista New Yorker revelavam que o réu era um homem comum que havia optado por não pensar sobre o que fazia. Não tinha ódio pelos judeus, nem a psicopatia de Hitler. Eichmann alegava que apenas cumpria ordens ao planejar como milhares de pessoas seriam levadas a campos de concentração. A filósofa usou o termo “banalidade do mal” para descrever o que viu em Eichmann, expressão que não procurava rebaixar a gravidade dos crimes, mas aumentá-los. Sua conclusão era de que o mal não nasce do desejo de praticar o mal, mas da rendição das pessoas a falhas de julgamento, por vezes incentivadas por sistemas opressivos. Nada disso, é claro, exime o mal praticado.


fonte: superinteressante