segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Heidegger e a questão da técnica


Heidegger é o filósofo que, em relação a Nietzsche e sua alardeada “superação da metafísica”, dá um passo aquém em relação a essa afirmação e procura fazer um cuidadoso  processamento crítico da racionalidade vigente em sua época. Para ele, o que podemos perceber, cada vez mais, é o caráter enigmático do ser humano – e o abismo que nos cerca. Nosso progresso, nosso télos, se não sofrer nenhuma espécie de desvio, será em direção ao ser-máquina. Entretanto, como seres humanos, somos entes aos quais não é permitido o próprio conhecimento – e isso pouco tem a ver com a tecnologia maquinística. Não sabemos o que é o homem, e mesmo que quiséssemos, não poderíamos descobri-lo. Para Heidegger, devemos nos contentar em saber que somos um signo indecifrável – mas poderíamos dizer, em contrapartida, que isso seria algo que nos “dá o que pensar”.  (Para conferir um papo sobre Friedrich Nietzsche - CLIQUE AQUI)

Em seu manuscrito Der Anklang, Heidegger afirma que o fato de as descobertas técnicas terem sido usadas tanto para a construção quanto para a destruição, criou a aparência segundo a qual a técnica estaria acima desse maniqueísmo entre bem e mal. Difundiu-se a ideia de que a técnica seria neutra, e seria o homem quem a converteria em maldição ou benção. Mas, segundo coloca Heidegger, o que é o homem e o que é a técnica? Afinal de contas, não seríamos nada além da produção técnica do que somos e do que não somos em nós mesmos? Ademais, a aparente neutralidade da técnica poderia servir como um incentivo para que o ser humano busque conquistar tecnicamente a natureza e organizar tecnicamente a história – para, dessa forma, criar uma instituição mundial que, fabricada pelo homem, assuma a prosperidade e o bem-estar de si próprio.  

Há algum tempo, a técnica, encarnada tanto no homem quanto na máquina, é o signo atual de nossa relação com o mundo e o modo como a sociedade contemporânea se articula. Nossa pretensão, ao longo da história, foi ver a técnica como fornecedora de bens e de serviços cada vez melhores e mais avançados, para aliviar o fardo de nossa existência, reduzir nosso sofrimento, aumentar nosso bem-estar e expandir os horizontes da vida humana. Heidegger acha que estamos próximos de nos apoderarmos da totalidade da Terra e sua atmosfera, e de obtermos assim, sob a forma de forças, o que está escondido no reino da natureza, submetendo o curso da história à planificação e à ordem de um governo terrestre.   

A principal questão que preocupava Heidegger era a questão do ser e seu destino no Ocidente. Tudo se resumiria ao ser. Para ele, somente o homem, chamado pela voz do ser, vivencia a mais sublime das experiências – ele é o ente que é. Heidegger nos ajuda a esclarecer com o que estamos comprometidos na era da técnica maquinística e os desafios que devemos enfrentar e vencer, se quisermos estabelecer uma nova relação com esse fenômeno.



fonte: puc edu

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